No dia em que um Ministro da mais alta corte brasileira determina a exclusão total de uma rede social (Telegram), por acaso abro o portal de outra rede social (Twitter) e deparo com uma pessoa dizendo resumidamente o seguinte:
“Foi muito bom a exclusão dessa plataforma porque já soube de pessoas que sofreram golpes praticados por meio dela, além do fato de que pode ser usada para a prática de crimes, tais como tráfico de drogas, de armas, disseminação de pornografia infantil, afora imoralidades de toda espécie”.
Então me vem à cabeça o seguinte pensamento:
“É, deve estar certo. Aliás, não deveria ser bloqueado e excluído totalmente somente o Telegram, mas também todas as redes sociais, as quais igualmente podem ser utilizadas para o bem e para o mal. Vamos apoiar a proibição do próprio Twitter, do Instagram, do Facebook, do GETTR, do Youtube, do WhatsApp e quaisquer congêneres. Afinal, também já soube de pessoas que foram vítimas de golpes e de uso indevido de todas as redes. Mais que isso, seria bom acabar de vez com a telefonia móvel e fixa, nada mais de celulares ou telefones, chega de todo esse mal, desses canais pelos quais as pessoas podem agilizar e expandir sua capacidade de comunicação e expressão. Tudo isso é um mal em si, um mal irredutível, absoluto. Melhor ainda, seria uma boa ideia, para evitar qualquer outro contratempo em possíveis relações interpessoais presenciais, que se cortassem as línguas e/ou removessem as cordas vocais de todas as pessoas”.
Começo a imaginar um ser humano parado em pé com as pernas afastadas e os braços estendidos e abertos lateralmente, à semelhança do “Homem Virtruviano” desenhado por Leonardo da Vinci. Inicialmente tem um olhar perscrutador e vivo, mas esse olhar vai aos poucos esmaecendo, como se alguma nuvem negra o recobrisse até assumir um aspecto cadavérico. A luz que rodeia o homem e nos possibilita vê-lo, vai cedendo a sombras que recobrem suas pernas, depois seu tronco, seus braços e, finalmente toda a impressão de seu rosto, suas feições e expressões. Aquele homem então desparece, como um sol eclipsado pela lua. Resta apenas um círculo de trevas.
Estou em meu escritório, o dia é claro, um céu azul é visível pela janela, a vida segue em sua beleza, ternura e violência. Contudo, olho para um canto sombrio nesse escritório ao lado de uma pequena prateleira de livros. As sombras me atraem, penso em sentar-me encolhido naquele canto escuro, fechar as janelas, apagar as luzes e ficar ali, esperando ser recoberto pelas trevas. Lembro-me de Gregor, personagem de Kafka, que se tornou um inseto indesejável até para sua família e achou que o melhor era simplesmente sumir. Talvez seja encontrado “duro como uma pedra”, ressequido no canto escuro do escritório e isso seja um alívio para muita gente. Um inseto ou qualquer coisa indiscernível de outras coisas do mundo inanimado. [1]
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